13 janeiro, 2007

Quando os corpos dançam,
as sombras caem
aos seus pés.

E rastejam,
perseguem-se,
vagueiam entre
os móveis pálidos.
Colam-se ao papel
de parede desbotado,
deslizam pelo piso desgastado,
pelas cadeiras
solitárias,
sentadas a mesas
vazias e ordinárias,
onde nunca ninguém
amou.

Movem-se,
mesmo quando
o ritmo cessa,
porque as sombras
vivem dos corpos
e os corpos
não têm pressa.
Vibram no salão,
ao mesmo tempo que
as sombras abrem caminho
pelo chão.
Não é a música que
os alimenta,
nem a luz tímida,
o que os liberta.
As sombras denunciam os corpos,
que seguem a
valsa lenta.
É um tango fútil,
sem consciência,
de corpos ávidos
de atenção.

É uma sede
contínua,
infinita.
E quanto mais
se bebe,
mais insaciável fica.
É um frio
que se cola à pele,
e não se apaga.
Um frio
que nem o fogo do sangue
mata.

É a dança dos corpos,
(o desfecho) das sombras.

Não há nada
que se compare
ao silêncio entre notas,
à perfeição
do movimento das cordas,
dos sopros metálicos e precisos,
dos timbres quentes, ensaiados…

E a tua sombra,
a meus pés.

(M. Santos)

3 Comments:

At 8:47 da tarde, Blogger Rute said...

WOW...
Potente, lindo, enfim. Como escreves tu. Magnifico.

Amei, "E a tua sombra a meus pés" que forte! "E quanto mais se bebe, mais insaciável fica" muito verdade.

"Não há nada
que se compare
ao silêncio entre notas,
à perfeição
do movimento das cordas,
dos sopros metálicos e precisos,
dos timbres quentes, ensaiados…" Mas que é isto?! A mulher escreve bem!!! Mesmo muito muito bem ;)

Keep going**

 
At 12:59 da manhã, Blogger Ana Pena said...

Soberbamente belo!:)

Festa do Avante, os P? pura imaginação...condimentada pela presença de alguém?... o mistério paira no ar...

 
At 2:14 da manhã, Blogger Ana Pena said...

Quando voltas aos poemas??? Tens de colocar mais, eles são sempre bonitos!!! quero maisss:)

 

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