Ama-me quando eu menos mereço, porque é quando mais preciso.
A Lua Comeu o Peixe
-"A Lua comeu o Peixe!" - gritou a D. Augusta, à janela. D. Antonieta abanou a cabeça e encolheu os ombros. "Está chéché", pensou. - "A minha gata comeu o peixe! O Peixinho dourado do meu João! - "Ah, a Lua, a gata", murmurou D. Antonieta.
14 fevereiro, 2007
13 janeiro, 2007
Quando os corpos dançam,
as sombras caem
aos seus pés.
E rastejam,
perseguem-se,
vagueiam entre
os móveis pálidos.
Colam-se ao papel
de parede desbotado,
deslizam pelo piso desgastado,
pelas cadeiras
solitárias,
sentadas a mesas
vazias e ordinárias,
onde nunca ninguém
amou.
Movem-se,
mesmo quando
o ritmo cessa,
porque as sombras
vivem dos corpos
e os corpos
não têm pressa.
Vibram no salão,
ao mesmo tempo que
as sombras abrem caminho
pelo chão.
Não é a música que
os alimenta,
nem a luz tímida,
o que os liberta.
As sombras denunciam os corpos,
que seguem a
valsa lenta.
É um tango fútil,
sem consciência,
de corpos ávidos
de atenção.
É uma sede
contínua,
infinita.
E quanto mais
se bebe,
mais insaciável fica.
É um frio
que se cola à pele,
e não se apaga.
Um frio
que nem o fogo do sangue
mata.
É a dança dos corpos,
(o desfecho) das sombras.
Não há nada
que se compare
ao silêncio entre notas,
à perfeição
do movimento das cordas,
dos sopros metálicos e precisos,
dos timbres quentes, ensaiados…
E a tua sombra,
a meus pés.
(M. Santos)
27 dezembro, 2006
"É mais fácil darem-te pontapés quando estás no chão..."
Mas, mesmo um pontapé no rabo te empurra para a frente!
"Para a frente que atrás vem gente", certo RV?
22 dezembro, 2006
24 novembro, 2006
Às vezes sinto coisas
que não sinto.
Mas quando as sinto,
sinto-as mesmo, não minto.
Sou capaz de
dizer coisas que
não sei dizer.
Mas digo-as,
vandalizo-as,
verbalizo-as
mesmo sem querer.
Se sinto e digo,
porque não escrevo?
Porque a diferença
entre o lábio e o dedo,
sinto-a a medo
ou não a sinto.
E não a sei
escrever.
(M. Santos)
16 novembro, 2006
Soldadinho de chumbo
não chora.
É forte, destemido,
mas não chora.
Comanda, conquista,
não chora.
Perde, perde-se
e não chora.
É soldado de chumbo,
soldado de espada,
em lutas de esgrima,
em dança estudada.
Soldado honrado,
em casaco engomado,
de sorriso apagado.
Soldadinho de chumbo,
soldado da guerra,
que vive no palco,
mas morre na tela.
(M. Santos)
02 novembro, 2006
Felicidade e Sucesso
O sucesso não é a chave para a felicidade.
A felicidade é a chave para o sucesso.
(Shawn Christopher Shea, “Felicidade Existe”)
Na minha terra
Na minha terra
o céu não era
perfeito.
Não havia azul
a perder de vista,
nem sol a encher o peito.
Na minha terra
a lua não aparecia,
nem brilhavam
estrelas-guia.
Na minha terra
não havia verde:
nem dos que
bailam ao vento,
nem dos que cobrem
a terra quente.
Na minha terra
não havia fontes,
nem terra lavrada,
nem casas caiadas
à borda da estrada.
Mas na minha terra
havia gente,
gente como a gente,
de mãos pequenas,
pés na pressa
e olhos espertos.
Com a vida rasgada
no rosto.
Mas sempre
cantada em verso.
(M. Santos)