13 janeiro, 2007

Quando os corpos dançam,
as sombras caem
aos seus pés.

E rastejam,
perseguem-se,
vagueiam entre
os móveis pálidos.
Colam-se ao papel
de parede desbotado,
deslizam pelo piso desgastado,
pelas cadeiras
solitárias,
sentadas a mesas
vazias e ordinárias,
onde nunca ninguém
amou.

Movem-se,
mesmo quando
o ritmo cessa,
porque as sombras
vivem dos corpos
e os corpos
não têm pressa.
Vibram no salão,
ao mesmo tempo que
as sombras abrem caminho
pelo chão.
Não é a música que
os alimenta,
nem a luz tímida,
o que os liberta.
As sombras denunciam os corpos,
que seguem a
valsa lenta.
É um tango fútil,
sem consciência,
de corpos ávidos
de atenção.

É uma sede
contínua,
infinita.
E quanto mais
se bebe,
mais insaciável fica.
É um frio
que se cola à pele,
e não se apaga.
Um frio
que nem o fogo do sangue
mata.

É a dança dos corpos,
(o desfecho) das sombras.

Não há nada
que se compare
ao silêncio entre notas,
à perfeição
do movimento das cordas,
dos sopros metálicos e precisos,
dos timbres quentes, ensaiados…

E a tua sombra,
a meus pés.

(M. Santos)